Novidades no acervo + agenda cultural do Sebo BARATOS: 18 agosto > 12 setembro > Clubes + Lançamentos de livros + Oficinas

Sebo Baratos da Ribeiro: Rua Paulino Fernandes 15, Botafogo / (21) 3547 2220

(a uma quadra do metrô Botafogo: desça pela Rua Voluntários da Pátria, do outro lado do cinema Estação e siga pela mesma calçada da Livraria da Travessa, dobrando na primeira á esquerda.)

> Aberto de segunda à sábado, das 11 às 20h. (com horário estendido em dias de eventos) <

www.baratosdaribeiro.com.br

 

 

Fachada com PROMOÇÃO

 

PROMOÇÃO POR TEMPO LIMITADO!!!

Funciona assim: a cada 3 livros da mesma seção, o mais barato sai de graça.

ou, como seria anunciado se estivéssemos no meio do Saara: LEVE 3, PAGUE 2

VÁLIDO APENAS P/ AS SEGUINTES SEÇÕES:

Arte / Policiais / Best Sellers / Clube da Leitura / Literatura Oriental / Literatura Brasileira / Psicologia & Psicanálise / Educação / Crítica Literária & Lingüística / Economia & Administração

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Na semana passada chegaram exatamente 50 sacolas de livros, de uma biblioteca que o Sebo Baratos adquiriu aqui em Botafogo.

Uma fina seleção de títulos onde se destacam as áreas de Filosofia, História, Ciências Sociais e Educação. Mas tem um pouco de tudo, é claro, incluindo boa literatura em geral: a antiga dona foi professora universitária, e agora que se aposentou, decidiu desmontar o apartamento e ir morar longe dessa megalópole. Fez bem, eu acho!

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Publicamos na fanpage do facebook alguns exemplos…. Apenas alguns! Esses saíram da primeira saola que abri

https://www.facebook.com/media/set/?set=a.962239823842302.1073741855.170107369722222&type=3

& esses outros das 2 sacolas seguintes….. O Lucas e o Walther cuidaram de mais umas 2….. Ainda faltam umas 45! São uns 2.500 livros no total!

https://www.facebook.com/media/set/?set=a.963130933753191.1073741856.170107369722222&type=3

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Lembrando que não adianta mandar enviar email! Caso algo lhe interesse telefone para (21) 3547 2220…

Ou melhor ainda: venha folhear esses & muitos outros milhares de livros aqui na Rua Paulino Fernandes 15, em Botafogo!

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1 as 10 e ponto final ROCK INGLES

NESTA QUINTA, dia 20 de agosto, a partir das 19:30h, tem gravação de mais um programa para a rádio Graviola….

AS 10 & PONTO FINAL apresenta: ROCK 100% MADE IN BRITAIN!

Pedro White comenta & toca :

The Kinks, Noel Gallagher, Blur, The Rolling Stones, Led Zeppelin, Pink Floyd, David Bowie, Ian Dury, Roxy Music, Beatles, Genesis, Jona Lewie, The La’s, TheWaterboys, Billy Fury, Johnny Kid &The Pirates, Steve Cradock…. E por aí vai. <<< 100% EM VINIL!!!

1 Britpop

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NESTE SÁBADO, dia 22 de agosto, das 15 às 17:

OFICINA DE JARDIM ENCANTADO NO VIDRINHO: 10 vagas

com Ceci Schubs

Oficina JARDIM ENCANTADO

mais informações em:

http://www.baratosdaribeiro.com.br/informativo-baratos-cursos-oficinas-em-agosto-setembro-clubes-do-vinil-e-da-leitura-e-claro/

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27 de agosto, QUINTA-FEIRA, a partir das 19:30h:

CLUBE DO VINIL com Tiago Lyra

1 Tiago Lyra

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1 Cristina Sampaio ilustracao

28 de agosto, SEXTA-FEIRA, a partir das 19h:

A ILUSTRADORA & CHARGISTA PORTUGUESA CRISTINA SAMPAIO,

uma das juradas do Salão de Humor de Piracicaba de 2015,

RECEBE A RAPAZIADA PARA DISCUTIR HUMOR & POLÍTICA, e também para expor algumas de suas premiadas obras, enquanto todos bebericam um pouco, e papeiam outro tanto.

! Cristina Sampaio

Cristina é uma artista gráfica de estilo marcante, icônico e tem um humor irreverente e cortante. Formou-se em pintura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Ilustra livros infantis e cria cartuns para revistas e jornais portugueses e estrangeiros – Expresso, em Portugal, Courrier International, na França, Die Presse, na Áustria, África 21, em Angola, The Washington Post, The New York Times, nos EUA, etc. Também trabalha em multimídia e animação.

1 Charge Cristina Sampaio Michael Jackson

Faz parte do coletivo Cartooning for Peace. Em 2012, Cristina foi jurada do 1º Salão Internacional de Humor Gráfico de Pernambuco, onde também expôs. Este ano participa do 42º Salão Internacional de Humor de Piracicaba, avaliando os trabalhos, ao lado de Nani Mosquera (cartunista colombiana), de nossa querida Laerte e outros grandes profissionais da área.

1 Charge Cristina Sampaio obama e a pomba

Para conhecer melhor o engajado trabalho da artista:

http://www.hub.cristinasampaio.com/Hub/home.html

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1 Iury lança livro na Baratos

1 / setembro, TERÇA-FEIRA, a partir das 19h:

LANÇAMENTO dos contos inspirados nas canções da banda SMASHING PUMPKINS,

escritos por Iury Soaes e reunidos no livro A TERRA DOS MILHARES DE CONTOS.

Além de assinar os livros & papear com a rapaziada, Iury vai esmerilhar seu violão, enquanto algumas cantoras convidadas entoarão hinos daquela que foi uma das maiores bandas do rock alternativo dos anos 90 – ou de todos os tempos, segundo os fãs, como eu mesmo, este que vos escreve, Maurício!

1 davesmashing_tonights_smashing_pumpkins

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5 de setembro, SÁBADO, das 10 ás 11:30h: 

OFICINA DE BRINQUEDOS RECICLÁVEIS: 10 vagas

com Elaine Loures: produtora cultural e graduanda da psicologia de Sete Lagoas (MG)

Oficine de Brinquedo - exemplo 1

PÚBLICO-ALVO: crianças entre 6 a 12 anos

mais informações em:

http://www.baratosdaribeiro.com.br/informativo-baratos-cursos-oficinas-em-agosto-setembro-clubes-do-vinil-e-da-leitura-e-claro/

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7  de setembro, SEGUNDA-FEIRA, às 18:30h

SHOW TRIBUTO AO BUDDY HOLLY, um dos maiores nomes da história do Rock´n´Roll!

aproveitando que o feriado existe é mesmo celebrar este rapaz genial, que partiu muito cedo, em fevereiro de 1959, aos 22 anos….

O sebo abrirá especialmente para este evento (devemos abrir as portas por volta das 17h)….

vozes & guitarras por Mauk Garcia (Big Trep, Cadillacs Malditos, Second Come etc) & Pedro Freitas Branco  (White, Like a Rolling Stones, Embaixadores do Rock etc)

Mauk e Pedro cantam Buddy Holly MELHOR

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8 de setembro, TERÇA-FEIRA, a partir das 19h:

LANÇAMENTO dos NOVO LIVRO de ALEX CASTRO:

Alex Castro bio do escravo

a autobiografia do poeta-escravo

Juan Francisco Manzano, poeta na ilha de Cuba, foi a única pessoa escravizada latino-americana a escrever uma autobiografia sobre sua experiência no cativeiro.

“Em 1835, sob encomenda de um grupo de literatos, o poeta cubano Juan Francisco Manzano redigiu um testemunho de suas experiências enquanto escravo, um empreendimento repleto de dificuldades práticas e políticas. O quanto falar? O quanto silenciar? O quanto aqueles homens brancos e ricos, aparentemente tão tolerantes, eram capazes de ouvir e aceitar? Como denunciar a escravidão sem ofender seus patronos escravocratas? Após consideráveis revisões e reescrituras, o manuscrito foi traduzido para o inglês e publicado por abolicionistas em Londres.

A autobiografia do poeta-escravo é pela primeira vez publicada no Brasil, um dos países que mais tarde aboliu o horror narrado com tamanha vivacidade por estas páginas. É diante de tal delicadeza histórica que o tradutor e organizador Alex Castro nos apresenta o resultado de uma tarefa também árdua, a de transladar o texto de Manzano mantendo seu vigor e respeitando suas idiossincrasias, marcas tão reais e concretas como lanhos de chicote na carne do escravo. O livro inclui duas versões da Autobiografia, uma tradução para a norma culta do português e uma transcriação criativa, acompanhadas por mais de 300 notas explicativas e um conjunto de textos que torna a presente edição um marco na memória da escravidão e da luta pela liberdade.”

+ vai rolar também o LANÇAMENTO de um livro não tão novo….. acontece que já está na praça faz uns meses, mas na época em que saiu do prelo o autor não soltou os rojões…. foi discreto, como o gentleman que é. Mas o que vale é o dia do registro no cartório, certo? E no caso de um livro isso significa um papo do autor com seus leitores, ao vivo e á cores, e com todo mundo de copo na mão!

Uma coletânea dos melhores textos engajados do autor: racismo, feminismo, transfobia, privilégios são os temas recorrentes .Textos de luta. Feitos para incomodar, despertar ou simplesmente cutucar. Não são textos acadêmicos – não trazem fatos novos, formulações originais, pesquisa primária ou querelas terminológicas.

Outrofobias.f. Rejeição, medo ou aversão ao outro. termo genérico utilizado para abarcar diversos tipos de preconceito ao outro, como machismo, racismo, homofobia, elitismo, transfobia, classismo, gordofobia, capacitismo, intolerância religiosa etc.

Alex Castro outrofobia-Capa

Pra ter uma idéia do quanto é bom: vários desses textos já foram usados na formulação de questões para provas (inclusive do ENEM), o que é especialmente impressionante considerando que é um autor independente, sem grandes editoras que façam lobby por sua carreira!

& saca que bacana o próximo livro de Alex – que neste caso organizou, traduziu e comentou -, a sair pela editora Hedra:

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10 de setembro, QUINTA-FEIRA, a partir das 19:30h:

CLUBE DO VINIL com Fábio Caldeira

1 Fabio caldeira

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12 de setembro, SÁBADO, das 16 às 20h:

VESPEIRO com Sujeitos Compostos (homenageando o New Wave Hookers) e Dizzy Dinosaur

1 Vespeiro dia 12 Sujeitos Compostos

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15 de setembro, TERÇA-FEIRA, das 19 às 21:30h: Clube da Leitura

Clube da Leitura quem le temmais horizonte

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& MAIS:

INSCRIÇÕES ABERTAS para o curso

PINTURA EM AQUARELA: 8 vagas

com Felipe Campos:  ilustrador e escritor, graduado em Gravura pela UFRJ e especialista em literatura infantil e juvenil. Pesquisa histórias de terror para crianças e jovens leitores, ilustrou vários livros didáticos e literários e constantemente faz exposições de seus trabalhos em livrarias e bibliotecas populares do Rio de Janeiro.

1 Curso de Aquarela

mais informações em:

http://www.baratosdaribeiro.com.br/informativo-baratos-cursos-oficinas-em-agosto-setembro-clubes-do-vinil-e-da-leitura-e-claro/

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1 O JUdoka como surgiu

Eu não consigo mais entender o fetiche dos colecionadores brasileiros pelos gibis da EBAL, não desde que ficou tão fácil conseguir bons TPs (encadernados) em papel de ótima qualidade – além de eventuais artigos & extras – reunindo os quadrinhos clássicos da Marvel e da DC Comics. (Aliás, hoje em dia está sendo TUDO republicado, tanto as histórias realmente importantes como as nem tanto assim…)

MAS HÁ EXCEÇÕES, entre elas os títulos nacionais, como O JUDOKA, criação de Pedro Anísio e Eduardo Baron. Inicialmente o título trazia HQs da Charlton Comics (casa de Capitão Átomo e Besouro Azul, ambos integrados ao universo DC anos depois); com o cancelamento do título nos EUA, a EBAL encomendou à dupla de artistas locais uma versão tupiniquim do Mestre Judoca / Judô-Master.

1 Judoka filme

A origem do Judoka é similar a do Mestre Judoca da Charlton, Carlos da Silva é um jovem que salva um senhor de ser atropelado por um caminhão, logo descobre que esse homem é o shihan (mestre) em judô Minamoto, que em agradecimento decide lhe ensinar as técnicas do judô, Carlos se torna o Judoka, com o tempo Lúcia, namorada do herói também passou a treinar Judô e lutar a seu lado.

Pois bem: chegou na Baratos um lote de gibis da EBAL – Tarzan, Superman em Cores, Black Diamond, Gunsmoke etc -, incluindo os números 35 e 36 de “O Judoka”. Fiquei curioso e folheei.

E descobri que houve uma versão cinematográfica do Judoka, graças ao artigo em 2 partes, publicados justamente nessas duas revistas (fevereiro e março de 1972), com depoimentos do diretor e dos atores! Descobri também uma transcrição do artigo na íntegra:

https://canibuk.wordpress.com/2012/06/05/o-judoka/

Foi lançado em 1973 e o “realizador” foi Marcelo Ramos Motta. A menos que haja um homônimo numa indústria razoavelmente próxima, a musical, trata-se do parceiro de Raul Seixas em várias canções…. O mesmo Marcelo Ramos Motta que, segundo o site Thelema.org.br (seção Ocultura), “foi o primeiro escritor Thelêmico Brasileiro, membro da Astrum Argentum, e fundador da Sociedade Ordo Templi Orientis (S.O.T.O.)”. Sujeito curioso…. “Instrutor de dois Probacionistas muito famosos no Brasil: Paulo Coelho e Raul Seixas. Outro conhecido pupilo de Motta foi Euclydes Lacerda de Almeida, que fundou dois importantes grupos thelêmicos no Brasil, a Ordem dos Cavaleiros de Thelema e a Sociedade Novo Aeon. (…) Motta nunca teve estabilidade econômica, saltando de emprego em emprego, e ganhando a vida como professor de Inglês, além de receber ajuda de seus membros da S.O.T.O.. Faleceu no dia 26 de Agosto de 1987, na cidade de Teresópolis, aos 53 anos de idade, de causa desconhecida.”

1 O Judoka filme

VOLTEMOS AO FILME DO JUDOKA: quem personificou o herói foi Pedrinho Aguinaga, que costuma passear com seu cachorro nas cercanias do velho endereço da Baratos da Ribeiro, em Copacabana. Ele mora por ali, e se você foi frequentador do sebo nos últimos 15 anos, antes que mudássemos para Botafogo, deve ter topado com ele.

E se você é mulher, ou enfim, se se interessa por homens bonitos, deve tê-lo notado. Pedrinho já é um sessentão, mas foi eleito o homem mais bonito do Brasil num concurso do programa de TV do Flávio Cavalcanti em 1970. E continua em boa forma, a meu ver, ainda que eu não tenha autoridade no assunto – já que sou pouco interessado na beleza dos homens.

1 pedrinoh hbolha de sabao

Trecho de uma matéria feita pela revista Trip:

“A vocação para bon-vivant, é bem verdade, já despontava na família. Fernando, seu pai, dentista que nunca exerceu a profissão, era apelidado de Barão e costumava receber em casa gente como Ibrahim Sued, Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves. “Ele era ainda mais bonito do que eu, vestia-se muito bem e conversava sobre qualquer assunto”, rememora. Sua mãe, “uma mulher incrível”, era oficial da marinha norte-americana.

Sem muito esforço, Pedrinho construiu uma biografia das mais consteladas. Em uma temporada em Nova York, conheceu Andy Warhol. Foi amigo do bailarino Nureyev, do diretor Pasolini. Atuou em filmes dos Trapalhões, protagonizou uma das cenas mais quentes da história do cinema brasileiro em Rio Babilônia, de Neville D’Almeida, e participou de Banana mecânica, de Carlos Imperial.

1 apedro64

Colecionou affairs com tantas musas que faria inveja até a Jorginho Guinle – entre os troféus que ele revela, estão Vera Fischer (na época com 18 anos), Rose di Primo (“Primeiro avião brasileiro”), Maria Callas (“Cantou para mim acompanhada de quatro chiuauas!”), Bianca Jagger (“Correu atrás de mim em Londres com a perna quebrada!”), Marisa Berenson (“O melhor corpo que já vi”), Liza Minelli (“Era uma espoleta!”), Demi Moore (“Viajamos para Angra em uma caminhonete sem freio”) e Monique Evans, com quem chegou a morar junto. Essas e outras histórias ele conta salivando, com o costume aristocrático de se referir a todos, famosos ou não, por nome e sobrenome. O repórter, ele chama de príncipe.”

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Ah, foi também garoto propaganda do cigarro Chanceller, por volta de 1976: “O fino que satisfaz”, dizia o slogan, um trocadilho que aludia à finura do cigarro e à magreza do rapaz vestido de branco.

Em tempo: as 2 revistas ainda estão à venda no sobrado azul da Rua Paulino Fernandes 15, em Botafogo!

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1 No MEio dos livros

A cada dia que passa é mais raro encontrar quem entenda verdadeiramente os princípios que regem os sebos de livros. Trabalho nisso há uns 16 anos, e hoje em dia é bem mais frequente que as pessoas reajam com estupor quanto explico que cabe a elas fuçar as prateleiras: “Ué, como assim? Eu é que tenho que procurar?!”

Sim, a Baratos não tem seu acervo catalogado no computador, e mesmo que a gente dê uma mãozinha, o maior fator de sucesso na caça ao livro desejado é o afinco do próprio leitor interessado. Por vezes se trata de um título que nos chamou a atenção, e sabemos indicar num estalar de dedos onde está, mas essa não é a regra.

(Tornar-se habituê da livraria é uma forma de contornar o problema: é na triagem inicial, quando estamos avaliando as bibliotecas mundo afora, que fica mais fácil separar um livro que sabemos estar no “radar” desse ou daquele cliente camarada. Mas para isso é preciso criar um vínculo com o livreiro – mais até do que com a livraria.)

Para entender como funciona um sebo, um sugiro a linda crônica do José Eduardo Agualusa, publicada no Globo em 13 de julho último (e que me foi indicada por um desses clientes pelo qual temos imenso carinho, a Dona Marisa):

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“A extinção dos unicórnios” de José Eduardo Agualusa (fragmento)

Gosto de me sentir rodeado por livros. A presença de livros, de muitos livros, tem um poder calmante, como flutuar num oceano pacífico, olhando o céu, numa tarde de sol. Escrevo melhor em casa, na minha biblioteca. Ontem, interrompi o romance em que estou a trabalhar para procurar uma coletânea de haikai, na secção de poesia. Não encontrei o livro que procurava, de forma que comecei a desmontar tudo. Reparei, sem grande surpresa, dado tal fenômeno ser recorrente sempre que começo a remexer nas estantes, que, nas filas de trás, iam surgindo títulos desconhecidos. Não me lembro de ter comprado aqueles livros. Não sei como se introduziram na minha casa.

Acredito, desde há muito tempo, que livros esquecidos nos confins de estantes remotas tendem a chamar ou a engendrar novos livros. Trata-se de um prodígio ignorado pela ciência.

(…) Em determinada altura da minha busca caiu-me aos pés um volume magro, “Silogismos da amargura”, de Emil Cioran, numa edição da Letra Livre. Ficou caído de borco, aberto, indefeso, em meio à desordem geral. Debrucei-me para o apanhar, segurando-o pela primeira vez entre as minhas mãos espantadas, e li: “Passados os trinta anos deveríamos dar tanta importância aos acontecimentos quanto um astrônomo aos mexericos”.

Coloquei o livro de E. M. Cioran na pilha dos “livros evocados”, juntamente com um volumoso ensaio, em francês, sobre poesia chinesa, e a biografia, em inglês, de Ryszard Kapuscinski, de Artur Domoslawski (que, entretanto, comecei a ler). Todos aqueles livros foram realmente publicados. Os seus autores são conhecidos. As editoras que os publicaram têm existência mais ou menos comprovada. Antes de surgirem na minha biblioteca residiam certamente em alguma outra. A biografia de Kapuscinski, aliás, traz na terceira página uma nota, a lápis, do presumível proprietário original.

Mais curiosos são os livros tão improváveis que só podem ter nascido do concúbito ansioso de vários títulos desencontrados. Descobri, por exemplo, um tratado romeno de pogonologia (o estudo da barba) e um título de poesia redigido num perverso dialeto do português. O livro de poemas trazia a indicação de ter sido impresso em 2017. Pode ser um erro de ortografia. Pode ser que o livro inteiro não seja outra coisa senão uma penosa coleção de erros de ortografia. Ou não — talvez tenha mesmo sido escrito num tempo futuro, num dialeto futuro.

(…) Visitei recentemente aquela que deve ser a maior biblioteca privada de Portugal. Pertence a José Pacheco Pereira, conhecido e respeitado comentador político. Pereira começou por adquirir um casarão enorme numa localidade perto de Lisboa, mas depressa compreendeu que não iria conseguir colocar lá todos os seus livros — mais de cem mil. Então foi comprando as propriedades em redor — uma escola, um lagar, um quartel da polícia —, e agora a biblioteca estende-se por todos aqueles espaços. Emergimos de um corredor sombrio e estamos num pátio e logo a seguir nos antigos calabouços da polícia, sempre entre livros. A biblioteca ameaça devorar a povoação inteira. Imagino o furor noturno nas estantes dobradas ao peso dos livros. Os desvairados títulos que ali se engendram. O fantasma de Borges vagando feliz pelos corredores.”

1 Violino na Baratos