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19 de setembro, no Sebo Baratos da Ribeiro, das 10 às 13h.
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Wilson Jequitibá, Raquel Botafogo e Alice Botafogo formam o grupo Contadores de Histórias Dandara. Pela primeira vez, armamos no sebo Baratos um evento destinado especialmente aos miúdos. Ou pelo menos é o que eu achava…
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Wilson foi muito camarada, e fez vista grossa à minha ignorância, mas eu realmente imaginava que a arte de contar histórias, hoje em dia, na sociedade urbana e midiática em que vivemos, sobrevivesse apenas como uma ferramenta pedagógica, que ultimamente se disseminara por ter se tornado um filão, uma variante do teatro infantil. Mas o que descobri é que existem tantos contadores de histórias para adultos quanto para crianças.
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Uma rápida pesquisa no Google indica que acabou de acontecer, nos dias 6 e 7 de agosto último, um Simpósio Internacional de Contadores de Histórias aqui no Rio de Janeiro, no SESC de Copacabana. O Simpósio fez parte da programação oficial do Ano da França no Brasil, foi totalmente gratuito e dirigido para todas as idades
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O site do Simpósio pode abrir o caminho de quem quer explorar essa modalidade de arte narrativa:
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http://www.simposiodecontadores.com.br/
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Mas realmente é no meio acadêmico de Letras e de Pedagogia que muitos projetos são realizados. Um deles possui um site bacana, onde inclusive é possível ouvir algumas histórias:
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http://br.geocities.com/contadores_ufrgs/inicial.htm
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O Projeto “Quem Conta um Conto” dá continuidade a uma iniciativa do Proler realizada dentro do Instituto de Letras da UFRGS, desenvolvido no período de janeiro de 1999 a julho de 2001 e coordenado pela Professora Ana Maria Lisboa de Mello. O Projeto atual, de mesmo nome, pretende trabalhar em duas instâncias. Para o público interno, no curso de Letras, pretende promover debates, oficinas, pesquisas, leituras em que se discutam tanto a contação em si, como o repertório a ser utilizado.
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Não tenho recordações das histórias que minha mãe me contava, quando era criança. Dentre minhas lembranças de leituras mais antigas, está um livro de fábulas de La Fontaine que tinha ilustrações do Gustave Doré e me apavorava. O texto original de Pinóquio, escrito pelo italiano Carlo Collodi, também me deixou muito impressionado: achava cruel, triste demais. Devo ter visto todas aquelas versões da Disney, mas assim como doces lights e diets não engordam, elas entraram por um ouvido e saíram por outro. (O único clássico da Disney pelo qual tenho carinho é o “101 dálmatas”, não pelos cães, que nunca tive e espero nunca ter – se conseguir continuar driblando os desejos da Dani – e sim pelos traços e cores, mais geométricos e menos chapados do que o de praxe.) Tenho a impressão de que nossa sociedade construiu faz muito pouco tempo o mito da infância como uma época idílica, em que o indivíduo deve ser alienado dos aspectos dolorosos e tristes da vida.
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Prefiro as histórias da época em que as crianças eram tratadas apenas como gente meio estúpida – não por falta de QI, mas de experiência mesmo -, e que talvez por isso precisasse de metáforas e alegorias para aprender a lidar com a morte, o perigo, o assédio, a maldade e a injustiça. Adoro as fábulas italianas compiladas por Ítalo Calvino, por exemplo. Em 1954 o editor Einaudi teve uma idéia brilhante, que foi compilar num livro a tradição oral italiana, da mesma forma que La Fontaine e Charles Perrault haviam feito na França e Jacob e Whihelm Grimm na Alemanha. Recrutou o já famoso Calvino, que parece ter aceitado o trampo mais pela grana do que por entusiasmo, a julgar pela forma seca com que transcreveu 100 fábulas e contos populares, recolhidos por todo o país. Um tanto melhor, já que, creio eu, o que elas ganharam em força (punch, pra ser exato) vale a oportunidade para exercícios estilísticos desperdiçada por Calvino. As fábulas são sinistras. Já li algumas no Clube da Leitura.
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Finalmente, uma confissão: comecei a freqüentar sebos bem moleque, não pelos livros, mas pelos gibis. Um dia meu primo Tiago, que costuma passar uns dias de férias em Taubaté, apareceu com os primeiros 20 números da revista em formatinho dos X-Men (meio dos anos 80?). Devorei. Daí em diante passei a ir religiosamente, todos os dias, ao sebo do Seu Dito, perto do Mercado Municipal – ele continua lá até hoje, sem nunca ter se modernizado, são pilhas e pilhas de papéis horripilantemente empoeirados. Havia um sebo mais organizado, numa banca de jornal perto da Rodoviária Velha, mas que cobrava mais caro. Também descobri onde era a distribuidora da cidade, que recebia os caminhões vindos de São Paulo. Anotava as datas de chegada de cada título, e me doía ler o novo número com um dia sequer de atraso. (Nunca entendi o pessoal que ao acompanhar, por exemplo, uma minissérie, espera todos os números serem publicados para começar a ler. Minha ansiedade nunca me permitiu.)
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Um dia de suprema felicidade foi quando comprei 43 formatinhos da EBAL por 10 reais na feira da breganha. Todos de guerra ou de faroeste – basicamente Sargento Rock , O Tanque Mal Assombrado, Escalpador e Jonah Hex. Aliás, comprei nesta Bienal luxuosos álbuns lançados pela Opera Graphica: “Sargento Rock: primeiros combates” (com roteiros de Robert Kanigher e arte de Joe Kubert) e “Jonah Hex: Showcase” (2 volumes numa caixa, com histórias desenhadas pelo genial Tony DeZuñiga) – eles estavam com bons descontos no stand da Comix. Adorava especialmente os personagens da “segunda divisão” da DC Comics, e corria atrás dos gibis dos anos 60 e 70 da EBAL para poder ler aventuras do Capitão Cometa, Johnny Quick, Omac, “Disque H para Herói” etc e tal.
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Comecei relativamente tarde. Meu pai, que tropeçou numa fenda temporal e assim veio parar nos anos 80, achava que quadrinhos de super-heróis eram “nocivos” para a mocidade, e eu tive de comprar escondido por algum tempo. Em 2 ou 3 anos, comprando em sebos, li absolutamente tudo que saiu no Brasil da DC Comics entre 1979 e 1992, mais ou menos. Cheguei a ir pra São Paulo apenas para comprar o número 19 do Novos Titãs da Abril, e assim completar minha coleção. Tinha um caderno, onde mantinha um controle do acervo… Cheguei a uns 2 mil e 500 gibis. Já me defiz de quase tudo, mas mantenho numas caixas de sapato as coleções em formatinho dos Novos Titãs, Liga da justiça e DC 2000.
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Dito isso tudo sobre HQs, vale lembrar que na OFF-Bienal serão relançados 2 excelentes álbuns publicados pelos “novos” quadrinistas cariocas: “Copacabana”, do Lobo e do Odyr, e “Menina Infinito”, do Fábio Lyra.
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Um abraço a todos,
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Maurício Gouveia
Gerente
Sebo Baratos da Ribeiro
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Publicado por Maurício
Tópicos: Infantil, OFF-Bienal, Para Crianças, Quadrinhos