O Sebo
O Sebo Baratos da Ribeiro é um caminho para idéias, lugares, épocas, pessoas, sons e imagens. Servimos aos livros e discos no esforço de que sejam novamente lidos, ouvidos e estimados. Queremos salvar os livros e os discos do fundo dos armários, do pó do desuso. E se o freguês estiver apenas esticando as pernas, a gente garante bate papo, troca de figurinhas, dicas e outros títulos daquela coleção ou tratados daquele filósofo, descoberta de uma outra banda com aquele guitarrista, indicação de uma montagem em cartaz daquela peça, lições sobre o casamento desfeito que joga nova luz sobre aquela fase daquele pintor.
De tabela temos de fazer também algumas outras pessoas felizes:
1) quem vende os livros e discos, que um dia dedicou suas economias, tempo e carinho àqueles romances e canções;
2) o novo dono, repassando essas preciosidades por um precinho camarada;
3) o pessoal da loja, que quer uma vez por ano alugar uma casinha em Coroa Grande pra gozar as férias.
Uma aritmética que às vezes parece ginástica, outras vezes acrobacia.
Acreditamos que o verdadeiro prazer de ir a uma boa livraria ou loja de discos está em ser surpreendido.
Entrar nela para alcançar um ponto no universo musical ou literário e sair da loja tendo vislumbrado um horizonte mais vasto para nossa curiosidade. Em certa medida, é um ímpeto masoquista. O verdadeiro amante das livrarias e “discarias” é um tiquinho frustrado, ansioso e fetichista, porque quer mesmo é descobrir uma montanha de coisas bacanas na loja, muito mais do que ele seja capaz de comprar. Ele quer estar sempre sofrendo com as artimanhas para abocanhar aquele tesouro antes dos outros. Meio infantil? Bem, é a idade das coleções, não?
Nada do escrito aqui é uma acusação, até porque todo sebo começa quando alguém decide vender sua própria coleção, ou trocar sua pequena coleção estática por uma gigantesca coleção mutante aberta ao público – e que lhe sustente. Para atender ao bibliófilo de varejo, temos que ser bibliófilos de atacado. As mesmas expectativas de ser surpreendido que o cliente tem, nós temos quando na caça às bibliotecas e discotecas que encherão nossas prateleiras.
A formação de uma discoteca ou biblioteca costuma ser acompanhada por outro nascimento, meio acidental. Seria a “Pulgoteca”: aqueles objetos acessórios à vida literária ou musical, artigos mais importantes pela referência que fazem do que pela utilidade que seu fabricante imaginou, cuja reunião é mais provável num mercado de pulgas do que numa mesma loja. A pulgoteca é uma ilustração da discoteca ou biblioteca. Um filósofo, por exemplo, vai acumular teses de colegas xerocadas, programas de seminários, discos de música erudita se for um adorniano radical, filmes do Bressane se gostar de Nietzsche e talvez vinhos, que ele aprendeu a apreciar naquele grupo de estudo. A discoteca de um sambista de coração poderá vir acompanhada de um chapéu panamá, uma calça de linho, o livro da João Fortes Engenharia sobre os bairros de Gamboa e Saúde e, se nos deixarem bisbilhotar embaixo da cama, talvez encontremos uma garrafa da Magnífica, aquela cachaça deliciosa. Então o Sebo Baratos da Ribeiro é uma loja de discos e livros mas vende também fitas de vídeo, cartazes de cinema ou de shows, cartões postais, ingressos autografados, santinhos de missa de sétimo dia do Elvis, calças de couro que o Mickey Rourke usou em “O Selvagem da Motocicleta”, essas coisas.
A princípio um sebo… com um olhar mais atento: uma aventura!
O livreiro responsável
“Maurício Gouveia veio para o Rio de Janeiro para cursar jornalismo em fins do século passado, mas acabou livreiro. Fundou o Sebo Baratos da Ribeiro em 2001, e logo os livros dividiam espaço com os discos de vinil, outra de suas paixões.
Maurício foi fanzineiro na adolescência (Cara de Cão, Taturama, Poemanão etc) e já havia produzido shows e festas em Taubaté (SP), sua cidade natal.
Tem o hábito de arregaçar as mangas em prol de outras causas culturais, motivo pelo qual já bancou o editor (a antologia de contos “Clube da Leitura Vol 1: Modo de Usar”) e o produtor musical (promovendo encontros entre os músicos cariocas que admira), entre outros papéis. Maurício sempre curtiu botar um som nas festas dos amigos, e o tempo fez dele DJ. Já se apresentou em São Paulo (Berlin, Paribar) e Belo Horizonte (Studio Bar), mas é no circuito alternativo carioca que Maurício circula.
Fundou, com Marcos “Spacecake” Oliveira, a Feira de Discos de Vinil do Rio de Janeiro em 2010. Deixou de participar da organização da Feira em 2015 e o evento segue firme e forte sob o comando de Marcello Maldonado, da Satisfaction Discos, que substituiu Marcos, falecido em 2012. A Feira de Discos chegou à 17ª edição em meados de 2016. No campo da literatura promoveu a Off-Bienal, em parceria com a editora Multifoco, e fundou o Clube da Leitura em 2007, que acabou se tornando um coletivo autônomo e itinerante – depois de 9 anos se reunindo na Baratos.
Maurício criou também a Locos Hermanos, dedicada à música urbana contemporânea latino-americana, que aconteceu entre 2012 e 2013, e no ano seguinte promoveu a Curto Circuito, resultado do esforço conjunto de quatro das principais lojas de discos do Rio. Maurício acredita que mais que fazer dançar, a missão do DJ é contribuir para a carreira dos músicos que estão aí, na pista, batalhando; e por isso costuma incluir artistas contemporâneos em seus sets e incluir shows no eventos que produz.
Nos últimos meses participou de festas no Bar do B (Black is Beautiful) e Porto Pirata (Sulfúrica). Mas gosta mesmo é de programa de rádio, e desde 2006 promove o Clube do Vinil na Baratos: uma festinha 100% feita com LPs, e que é gravada e depois veiculada na Rádio Graviola.
Seu blog não é atualizado com freqüência, mas volta e meia tem um novo artigo lá: http://aptovazio.blogspot.com.br/